por Trilce Navarrete

 

Introdução

No que diz respeito à questão de quais indicadores podem ser considerados essenciais para medir a contribuição e/ou os impactos da cultura na economia de um país, o primeiro passo é definir o escopo da “cultura”. Este texto se concentrará no patrimônio digital, que se refere ao conteúdo digital nato e digitalizado produzido por instituições patrimoniais, incluindo bibliotecas, arquivos, museus e sítios arqueológicos.

O patrimônio digital pode incluir uma representação do objeto, como uma foto ou modelo 3D, mas também pode incluir informações adicionais sobre o objeto, sua história, sua gestão, processos técnicos ou documentação associada. Considerar o patrimônio digital a partir dessa abordagem holística facilitaria a compreensão da contribuição do setor cultural além dos usos relacionados ao patrimônio.

Não há consenso internacional sobre o que constitui o patrimônio digital ou sobre a melhor forma de prestação de contas sobre ele. Alguns esforços têm sido feitos considerando a contribuição do patrimônio digital para a economia com base nos resultados e nas despesas. Na Europa, o projeto Enumerate fez um levantamento de dados estatísticos sobre a digitalização do patrimônio cultural, com o intuito de embasar decisões estratégicas sobre investimentos na área. No entanto, foram reportados dados em porcentagem em vez de números absolutos, gerando desafios metodológicos[1]. Houve também as estatísticas experimentais do Eurostat[2] sobre a popularidade de patrimônios culturais. Para esse cálculo, o estudo fez um levantamento do número de visitantes das páginas da Wikipédia sobre mil Patrimônios Mundiais da Unesco, que se concentraram apenas na página sobre o site, mas negligenciaram as páginas que reutilizam o conteúdo desses mesmos sites ou instituições administradoras[3].

Uma alternativa é considerar a contribuição do patrimônio digital com base na renda gerada por sua digitalização. Esse tipo de cálculo, no entanto, ainda não está disponível. Ainda não existe um Spotify do patrimônio digital. As instituições patrimoniais estão cada vez mais optando por publicar seus dados com licenças abertas para estimular a reutilização a fim de gerar valor de um investimento geralmente subsidiado. Em vez de renda, uma medida de reutilização poderia servir para indicar o valor do patrimônio digital disponível. Medir o valor com base no uso implica risco de simplificar a escolha do consumidor com base na facilidade de acesso ou popularidade. No entanto, o uso é uma métrica que vale a pena explorar, particularmente quando ligado à criação de novos produtos e serviços.

Considerando a reutilização, grande parte da nova produção é realizada pelo consumidor ou pela multidão, em vídeos colocados no YouTube ou no TikTok, ou qualquer outro tipo de expressão nas mídias sociais[4], com uma parte da produção sendo feita por robôs[5]. A produção e a reutilização de conteúdo patrimonial dentro ou fora do contexto patrimonial podem ser consideradas parte da participação cultural das novas gerações.

As instituições patrimoniais estão cada vez mais optando por publicar seus dados com licenças abertas para estimular a reutilização a fim de gerar valor de um investimento geralmente subsidiado.


Neste texto, é feita uma proposta para considerar a contribuição do público como insumo de produção, tendo como foco o caso dos museus, mas com aplicação potencial em arquivos, bibliotecas e instituições culturais similares. As contribuições podem ser identificadas a partir de um consumidor geral, de centros acadêmicos e de pesquisa, ou de indústrias privadas, resultando em inovações específicas ou simplesmente contribuindo para uma infraestrutura de conhecimento global. Tal abordagem forneceria dados comparáveis entre regiões e escaparia da volatilidade de serviços e hardware nativo[6] da prática digital atual, ao mesmo tempo que permitiria a captura de dinâmicas regionais e localizadas.

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Participação cultural
Cada vez mais, as gerações mais jovens têm uma participação ativa em atividades culturais. Há uma noção simplista sobre participação cultural que a identifica apenas como a visita a um museu. Um relatório recente do Ministério da Cultura da Holanda sobre o Estado do Patrimônio Digital (KEMMAN, et al., 2021) identificou 77.724 visitantes exclusivos engajados por pouco menos de três minutos em websites de 176 museus holandeses durante 2020. Esse registro parcial é importante para o desenvolvimento de estatísticas sobre patrimônio digital e participação cultural. Espera-se que as estatísticas possam eventualmente abranger a presença digital dos museus em outros ambientes on-line, tais como mídias sociais e portais geográficos e temáticos.


A entrada na exposição física ou no site do museu on-line é uma modalidade simples de envolvimento com a instituição. A participação tem muitas outras expressões, incluindo a doação financeira ou a doação de tempo para realizar diversas atividades (ATECA-AMSTOY; GOROSTIAGA, 2020). Crowdsourcing é o nome dado à participação de consumidores no custo de desenvolvimento de novos produtos e serviços para além da empresa (NAVARRETE, 2020). A participação pode ter vários níveis de complexidade e habilidades exigidas para assumir diferentes formas de gestão, permitindo autoridade centralizada ou descentralizada, participação aberta ou fechada, e uma gama de relações entre o participante e o museu.

77.724 visitantes exclusivos engajados por pouco menos de três minutos em websites de 176 museus holandeses durante 2020.

A participação que leva a uma contribuição de inputs pode ser caracterizada como crowdfunding (contribuição financeira), geração de ideias (pesquisa e desenvolvimento como input), esforços agregados (geralmente microtarefas) e colaborações abertas (por exemplo, coprodução, copropriedade, cogestão) (NAVARRETE, 2020). As colaborações abertas são geralmente coordenadas pela instituição de patrimônio, mas existem outros exemplos sem coordenação central aparente, tais como a maior coleção de patrimônio 3D (uso de fotogrametria para capturar e modelar edifícios reais), VR (realidade virtual, em inglês) e AR (realidade aumentada, em inglês) do mundo, encontrada na plataforma SketchFab.

Não há informações sobre a contribuição nacional para essas plataformas globais, nas quais o conteúdo do patrimônio digital 3D, VR e AR é disponibilizado sem custos quando fornecido por instituições de patrimônio ou a um pequeno custo quando fornecido por particulares. Levando em consideração a contribuição nacional nesses portais, será possível eventualmente fazer uma comparação internacional sobre habilidades digitais, produção de capital intelectual, inovação nas indústrias criativas e geração de renda. Para isso, pode-se considerar o tamanho do conteúdo disponibilizado a partir de uma determinada região geográfica ou selecionar perfis nacionais[7].

Considerar a participação cultural como insumo de produção requer que os museus e as instituições patrimoniais alterem seu processo de produção para permitir contribuições de fontes externas e coletivas. Um exemplo é o Amsterdam City Archive, que redesenhou seu processo de produção para receber contribuições externas. O trabalho desenvolvido por esses colaboradores externos durante um ano e meio foi o equivalente à produtividade de uma equipe de funcionários contratados em tempo integral durante 18 anos (HOLTMAN; VAN ZEELAND, 2019).

Imagem feita de papéis brancos que forma a imagem de uma torre, com fundo marrom claro.
Iglu - Obra de Adriano Catenzaro (imagem: Adriano Catenzaro)

 

Que medida poderia captar essa contribuição coletiva coordenada? O cálculo do número de horas dedicadas às atividades, assim como a produção realizada, pode fornecer uma primeira visão geral desse tipo de participação. Isso pode ser comparado com a produção da equipe interna para estimar o equivalente em tempo integral na instituição, particularmente quando a participação ocorre em um site ou portal institucional. A tecnologia digital permite que todas as transações sejam registradas, e cabe ao museu ou à instituição coordenadora rever os dados registrados para analisar a escala de participação e contribuição.

Quando os dados são produzidos em sites de propriedade de empresas privadas, como todas as plataformas de mídia social, e conforme o tamanho dos dados aumenta exponencialmente, os esforços coordenados para colher e analisar o conteúdo produzido pelo consumidor podem ser uma estratégia viável. Como alternativa, podem ser considerados acordos com a plataforma privada para entregar algum tipo de relatório de utilização.

Considerar a participação cultural como insumo de produção requer que os museus e as instituições patrimoniais alterem seu processo de produção para permitir contribuições de fontes externas e coletivas.

Além das contribuições dos consumidores participantes do público, a colaboração de outros centros de pesquisa e institutos de ensino superior tem sido geralmente negligenciada. É bem conhecido que os estudantes são mão de obra qualificada durante os estágios e fornecem resultados valiosos sob a forma de dissertação e recomendações para as instituições de patrimônio. Da mesma forma, muitos projetos acadêmicos fazem uso dos vastos bancos de dados dos museus em pesquisas sobre história, ciência da informação ou qualquer outra disciplina. Afinal, os museus possuem diversos tipos de coleções, e seus objetos são polissêmicos, podendo fornecer diferentes informações dependendo do contexto do espectador (NAVARRETE; MACKENZIE OWEN, 2016).

Outras empresas, do setor privado ou público, também podem participar da criação e aquisição de valor. O Google é um exemplo com uma longa trajetória de aquisição de valor das coleções patrimoniais, por meio do projeto Google Books – que inclui em seus sistemas de busca vastas coleções de texto –, do projeto Google Art – avançando o reconhecimento de imagem –, bem como da simulação e, mais recentemente, do projeto Aria[8] – fazendo uso de som e configurações 3D para fornecer seus serviços gerados por máquinas. Os consumidores dos serviços do Google se beneficiam de melhores resultados enquanto alimentam o sistema de aprendizagem.

Os museus são importantes contribuintes para a economia da informação, porque fornecem conteúdo de qualidade, estruturado, diversificado, confiável e sustentável que pode ser usado por indivíduos ou máquinas. No entanto, poucos museus estão cientes do valor de suas informações como recurso bruto e carecem de uma estratégia para lidar com essa questão.

A percepção do valor da informação está mudando a maneira como os consumidores interagem com os serviços e a maneira como as empresas operam. Enquanto a informação costumava ser colhida para uso interno e tomada de decisões posteriores, as empresas bem-sucedidas estão se envolvendo cada vez mais em ecossistemas de troca de dados para extrair informações de múltiplas fontes e fornecer maior personalização de serviços a seus consumidores, desenvolvendo uma gestão de dados confiável para fortalecer as partes interessadas (WEF, 2020).

Para os museus, isso significa vincular as informações sobre coleções a uma rede estruturada para disseminar esse conteúdo, enriquecendo seus serviços. Os ambientes de informação colaborativa têm maior valor, assim como os indivíduos e as empresas capazes de conectar conjuntos de dados. São poucos os museus no mundo que possuem os recursos e a visão para explorar a coleta de dados a fim de melhorar seus serviços. Um exemplo é o Rijksmuseum, em Amsterdã, que recentemente se associou a um pesquisador independente para identificar uma série de fotografias na coleção usando a busca inversa de imagens, um processo de encontrar informações para identificar as imagens por meio da localização on-line de imagens semelhantes[9]. Uma vez que as imagens são identificadas, seu valor de reutilização aumenta exponencialmente. Tal processo contribui para uma criação sustentável de valor em torno dos dados, ao desenvolver, vincular e expandir a informação disponível para todos.

Como calcular tais contribuições? Basta que um ator externo participe da criação do conhecimento para ser inserido no processo de produção do Rijksmuseum, melhorando seu banco de dados. Essa contribuição pode ser calculada de forma semelhante à de qualquer outro colaborador remunerado ou não remunerado por horas de trabalho e tipo de produção. Além disso, ela expande as informações disponíveis sobre as coleções para todo o setor patrimonial e para além dele, facilitando a reutilização para além da instituição do museu[10]. Ou seja, a participação cultural também pode contribuir para expandir o modelo de referência que compõe a infraestrutura global do conhecimento, para a qual os museus são contribuintes-chave. Esse é um ponto importante, pois requer uma abordagem diferente para medir a dimensão econômica da participação cultural. 

Para os museus, isso significa vincular as informações sobre coleções a uma rede estruturada para disseminar esse conteúdo, enriquecendo seus serviços.

Medir a contribuição econômica da construção de uma infraestrutura de conhecimento, que pode ser usada por qualquer pessoa para criar sistemas híbridos, personalizados, onipresentes, participativos, compartilhados e fragmentados, para educação, lazer ou trabalho, seguiria um método semelhante ao da contabilização de qualquer outra forma de infraestrutura. As infraestruturas são um elemento de produção que permite que todos os indivíduos e empresas realizem seu trabalho.

Exemplos podem ser encontrados em empresas que utilizam soluções de inteligência artificial, tais como o Google, alimentado pela infraestrutura de informação. Um exemplo do setor de museus é o projeto CHIM, destinado a desenvolver um chatbot para museus. Ele utiliza o banco de dados das coleções para permitir que um robô converse com o visitante do museu a respeito das obras expostas[11]

Considerando-se que os museus contribuem para a criação de uma infraestrutura de conhecimento nacional e eventualmente global e que a nova modalidade de participação se baseia na cocriação, surge uma série de desafios que dizem respeito à legislação necessária para otimizar a copropriedade. O mais importante, e relevante para esta discussão, é o desenvolvimento de indicadores sobre a contribuição dos museus e das instituições patrimoniais. Como discutido, uma maneira de tentar obter o escopo da contribuição é olhar a participação como elemento de entrada para a produção.

Dado o desafio da disponibilidade e organização de dados, uma opção é focar em um ambiente organizado no qual um número suficiente de participantes se engaje na reutilização e coprodução utilizando a base de dados de museus digitais. Um ambiente global disponível para pesquisa é a Wikipédia. O que se segue é o exemplo da contribuição dos museus brasileiros na construção de conhecimento na versão em português da Wikipédia[12].

a participação cultural também pode contribuir para expandir o modelo de referência que compõe a infraestrutura global do conhecimento, para a qual os museus são contribuintes-chave. Esse é um ponto importante, pois requer uma abordagem diferente para medir a dimensão econômica da participação cultural. 

Wikipédia Brasil

Considerar o uso do conteúdo de museus na Wikipédia para medir a dimensão econômica da cultura serve para explicar o papel dos museus e das instituições patrimoniais como fornecedores de matéria-prima em uma infraestrutura de conhecimento. A matéria-prima refere-se aos materiais digitais disponíveis on-line que podem ser reutilizados como peças Lego para a produção de novos produtos e serviços; nesse caso, para a ilustração de artigos enciclopédicos. Estudos anteriores documentaram a dimensão potencial de alcance e reutilização quando o conteúdo do museu é disponibilizado como parte dos artigos “wikipedianos” (NAVARRETE; VILLAESPESA, 2021; NAVARRETE; BOROWIECKI, 2016), ainda que não tenha havido um estudo sistemático para contabilizar a contribuição econômica como tal.

O investimento na digitalização das coleções é significativo. Estima-se que as instituições de patrimônio europeu gastam anualmente uma média de 450 mil euros na curadoria de coleções digitais (NAUTA et al., 2017). A digitalização de coleções inclui uma reprodução digital e metadados básicos para identificação geral da reprodução, bem como o posicionamento do objeto dentro da estrutura conceitual institucional utilizando thesauri padrão ou documentação contextual. O uso desse investimento para fins internos é parcialmente contabilizado na produção do museu, sob a forma de publicações, exposições e pesquisas. O uso externo do investimento, para desenvolver novos produtos e serviços além do museu, poderia ser contabilizado pelo excedente de dados produzido pelos editores e leitores da Wikipédia.

Analisar a Wikipédia na edição em português pode servir de exemplo. Existem 1.778 pinturas identificadas originárias de 79 coleções localizadas no Brasil, das quais 1.410 têm um artigo específico na Wikipédia. O Museu Coleção Paulista possui mais de 500 pinturas ilustrando artigos da Wikipédia, representando a maior coleção brasileira nessa plataforma, seguido pelo Museu Histórico Nacional, com 350 pinturas, Museu de Arte de São Paulo (Masp), com 220 pinturas, e Pinacoteca do Estado de São Paulo, com 220 pinturas.


Esses museus contribuem para a infraestrutura do conhecimento nacional, disponibilizando sua produção para que todos a consultem e reutilizem. Os artigos podem ser ilustrados pela própria instituição, por um editor da Wikipédia ou pelo público em geral. A contribuição para a infraestrutura do conhecimento brasileiro pode ser comprovada com base na participação dos usuários brasileiros, que representam mais de 70% dos usuários da edição em português da Wikipédia.


A popularidade dos artigos pode ser percebida no número de visualizações das coleções. O Masp recebe quase 550 mil visualizações mensais, seguido pelo Museu Imperial, com 300 mil visualizações, e pela Pinacoteca do Estado de São Paulo, com 270 mil visualizações. Além das dez coleções mais vistas, o restante das pinturas identificadas ilustra artigos que recebem menos de 50 mil vistas por mês.


Esta breve revisão de pinturas de museus brasileiros ilustrando a Wikipédia em português foi baseada nas obras identificadas no WikiData, a rede global que alimenta a maioria dos grandes projetos de dados. Dando um passo adiante, uma política nacional poderia sugerir a publicação de coleções no WikiData usando uma quantidade mínima de palavras-chave no campo “descrição” para identificar a pintura, bem como o uso de outros vocabulários, como declarações Iconclass[13], para aumentar a capacidade de localização e reutilização das coleções. Tais medidas contribuiriam para a disseminação de informações de qualidade sobre o patrimônio, aumentando a alfabetização digital, o vocabulário cultural e o enriquecimento geral do consumo cultural on-line.

Imagem não identificável com papéis coloridos, com fundo amarelo pardo.
Juro 04 - Obra de Adriano Catenzaro (imagem: Adriano Catenzaro)



Conclusões


As tecnologias digitais facilitam o acesso híbrido à informação patrimonial que pode potencialmente tornar-se a nova forma de participação cultural: personalizada, interativa, onipresente e em rede. As gerações mais jovens (com menos de 24 anos) relatam uma forma ativa de participação que geralmente envolve cocriação (KEMMAN et al., 2021).


Um novo conjunto de medidas pode considerar a dimensão econômica da cultura como (1) o fornecimento de dados de qualidade disponíveis para reutilização a fim de criar novos produtos e serviços, assim como (2) a contribuição para uma infraestrutura de conhecimento que permita uma criação sustentável de valor em torno de dados relacionados à cultura, desenvolvendo, conectando, enriquecendo e expandindo as informações disponíveis para todos. Enquanto a primeira abordagem pode se concentrar na produção das instituições relacionadas com o patrimônio, a segunda abordagem precisaria mais claramente contar com a participação ativa dos consumidores na recuperação do conteúdo relacionado ao patrimônio, particularmente para além de um ambiente cultural.

A disponibilidade de tais evidências, para documentar a extensão da reutilização dos dados do patrimônio digital como forma de participação cultural, pode lançar luz sobre o papel potencial dos museus como fornecedores de recursos primários na economia da informação.

As tecnologias digitais facilitam o acesso híbrido à informação patrimonial que pode potencialmente tornar-se a nova forma de participação cultural: personalizada, interativa, onipresente e em rede.

Por último, os governos podem estimular o desenvolvimento de uma infraestrutura de patrimônio digital para o avanço do capital social, digital, cultural e econômico, incentivando o uso de padrões básicos e vocabulários organizados para facilitar a busca e a reutilização de informações.

A tecnologia digital pode permitir que museus e instituições patrimoniais inovem na prestação de serviços capazes de fornecer modelos empresariais participativos que contribuam para os bens comuns da cultura e do conhecimento, para todos.

 

Como citar este artigo

NAVARRETE, Trilce. Participação cultural digital como elemento de produção. Revista Observatório Itaú Cultural, São Paulo, n. 34, 2023.

 

Trilce Navarrete é especialista nos aspectos econômicos e históricos do patrimônio digital, com especial interesse em inteligência artificial aplicada ao patrimônio cultural. Navarrete está terminando de escrever um livro sobre economia de museus digitais. É professora assistente na Universidade Erasmus, em Rotterdam, na Holanda, onde ensina a aplicação da teoria econômica ao campo da cultura. Como pesquisadora, concentra-se na análise econômica e histórica para explicar as mudanças na cultura causadas pela adoção da tecnologia digital. Navarrete lidera o projeto da União Europeia chamado Recharge – que trata de modelos de negócios participativos no patrimônio cultural –, integra o consórcio do Instituto Europeu de Inovação para as Indústrias Culturais e Criativas, e contribuiu para vários projetos de pesquisa relacionados com a análise econômica da cultura digital (Riches, ViMM, Enumerate). Atua como consultora do European Group of Museum Statistics (EGMUS), é presidente do Documentation International Committee of the International Council of Museums (Cidoc) e membro da diretoria da International Association for the Economics of Culture (Acei) e do Early Music Festival na Holanda. Também atuou como consultora para a criação e avaliação de infraestruturas digitais na Europa. Navarrete é natural da Cidade do México.

Referências

ATECA-AMESTOY, V.; GOTOSTIAGA, A. (2022). Donating money and time to cultural heritage: evidence from the European Union. Journal of Cultural Economics (2022), 46:101-133. https://doi.org/10.1007/s10824-021-09409-4.

HOLTMAN, Marc; VAN ZEELAND, Nelleke (2019). Het jaar van 6 miljoen. Jaarverslag digitalisering 2018 Stadsarchief Amsterdam. Amsterdam: Gemeente Amsterdam Stadsarchief.

KEMMAN, M. et al. (2021). Stand van het Nederlands Digitaal Erfgoed 2021. Dialogic. Publicatinummer 2021.102.2137.

NAUTA, G. J. et al. (2017). Europeana DI2-Access to Digital Resources of European Heritage. Report Enumerate Core Survey 4. The Hague: Europeana.

NAVARRETE, T.; VILLAESPESA, E. (2021). Image-based information: paintings in Wikipedia. Journal of Documentation, v. 77, n. 2, p. 359-380. https://doi-org.eur.idm.oclc.org/10.1108/JD-03-2020-0044.

NAVARRETE, T.; BOROWIECKI, K. J. (2016). Changes in cultural consumption: ethnographic collections in Wikipedia. Cultural Trends, 25:4, 233-248, DOI: 10.1080/09548963.2016.1241342.

WORLD ECONOMIC FORUM (WEF) (2020). New Paradigm for Business of Data. Briefing paper. July 2020.


[1] Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Enumerate_(project).

[2] Eurostat: órgão da União Europeia responsável pela produção de dados estatísticos.

[3] Disponível em: https://ec.europa.eu/eurostat/web/experimental-statistics/world-heritage-sites.

[4] As plataformas de mídia social mais conhecidas têm milhões de usuários globais. Não há nenhuma descrição de quanto conteúdo relacionado ao patrimônio está disponível diretamente, das instituições de patrimônio, ou indiretamente, dos participantes do patrimônio. O Facebook, com o WhatsApp, o Instagram e o Facebook Messenger, tem a maior fatia de usuários (https://en.wikipedia.org/wiki/Social_media).

[5] Um exemplo é a coleção de robôs postando em nome de artistas famosos desenvolvida por Andrei Taraschuk: https://twitter.com/i/lists/976556889981906945

[6] O software é executado de forma nativa quando isso ocorre no hardware real do computador, e não por meio de emulação ou intervenção de outro programa. Esse estado é comum para a maioria dos programas de computador normais executados em um sistema.

[7] Em 2017, a internet holandesa tinha 9 milhões de domínios registrados, dos quais 5,7 milhões eram domínios .nl, e menos de 1,6 milhão eram websites. De 2007 até 2022, a Biblioteca Nacional Holandesa arquivou 21 mil websites, representando 37 terabytes de dados, divididos em 21 coleções. Disponível em: https://lab.kb.nl/dataset/historical-growth-kb-web-archive; https://kia.pleio.nl/groups/view/1997dd74-cb58-420c-9056-85d1194729b9/kennisplatform-webarchivering/blog/view/37e90f80-0364-44a0-91ee-538d9040b246/vijftien-jaar-webarchivering-bij-kb-nationale-bibliotheek-2007-2022. Acesso em: 9 nov. 2022.

[8] Aria é um projeto desenvolvido pelo Facebook Reality Labs para ajudar pesquisadores a construir o software e o hardware necessários para futuros óculos de realidade aumentada.

[9] Disponível em: https://www.bellingcat.com/resources/2022/08/09/using-new-tech-to-investigate-old-photographs/.

[10] O exemplo dado da busca de imagens invertidas realizada na coleção do Rijksmuseum, em Amsterdã, identificou inconsistências na datação de coleções encontradas em outros grandes museus, incluindo o Getty Museum, a National Portrait Gallery, em Londres, e o Metropolitan Museum of Art, em Nova York. O uso de normas para ligar dados permite às instituições atualizar as informações de suas coleções em resposta à mudança na documentação.

[11] Disponível em: https://www.dfki.de/en/web/research/projects-and-publications/projects-overview/project/chim.

[12] Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Portuguese_Wikipedia.

[13] Classificação de biblioteca especializada em arte e iconografia. Foi concebida por Henri van de Waal, escritor e historiador de arte holandês, e desenvolvida por um grupo de estudiosos após a sua morte, em 1972.